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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Índia - Introdução

Cidades e países são como pessoas: a gente simpatiza ou não. E essa experiência é completamente subjetiva, completamente pessoal. A Índia não é um país fácil de se gostar, um destino tipo "satisfação garantida ou seu dinheiro de volta". Pelo contrário. É um lugar tão complexo que não há como prever como vamos reagir a ele. A cada dia que a gente passa lá, dentro da gente vira um mês. E a digestão é lenta.

Se formos conhecer o país baseados nas nossas referências culturais, não vamos entender nada do que se passa por lá e, claro, não vamos gostar. Por isso, é preciso ter a mente e o coração desprovido de qualquer pré-julgamento. A Índia é única, não pode ser comparada a nada que conhecemos. Precisamos começar do zero, aprender tudo novamente. E isso requer uma boa experiência em contatos com culturas muito diferentes das quais estamos acostumados a conviver. Não é possível comparar a Índia nem mesmo com ela própria, pois cada região é completamente diferente da outra. Ao passarmos de um Estado para outro, muda a língua, a religião, a culinária, os hábitos, as tradições e por ai afora.

A sociedade indiana é dividida em castas, um sistema que separa as pessoas de acordo com a profissão e a origem social. Segundo a lenda, a humanidade teve origem do corpo de um Deus. Da cabeça, surgiram os intelectuais e os sacerdotes; dos braços, os guerreiros e os donos de terras; das pernas, os empresários e comerciantes; e dos pés, os serviçais. Hoje, são mais de 3000 castas, como se cada atividade fosse de responsabilidade de uma família.

Uma das faces mais cruéis da cultura indiana, durante muito tempo, trabalhos considerados impuros como o trato dos mortos e a limpeza de latrinas somente eram realizados por pessoas excluídas da sociedade. Pessoas que os ingleses chamaram de "intocáveis" durante o período em que o país foi dominado pelos britânicos. A Índia moderna tenta se livrar desse passado ainda presente na cultura do povo.

Dizem que o trânsito da Índia é caótico. Não acredite. Caótico é o nosso. O de lá se recusa a caber dentro de qualquer adjetivo. Tente imaginar carros, motos, pedetres, vacas - sim, vacas! - e uma ausência total de sinalização nas ruas.

A religiosidade está no ar, nos gestos, nas vacas que se apossam das ruas, nas fachadas, nos interiores, nas águas do rio que abençoa a vida e a morte, nos olhares que nos contemplam. Há 33 milhóes de deuses e deusas no hinduísmo. Dentro desses, três são especialmente importantes - são a trindade do hinduísmo - Brahma, o criador; Vishnu, o preservador; e Shiva, o destruidor.

A pobreza é latente. Apenas alguns metros separam a pobreza que agride dos mais belos monumentos. Em compensação, no meio das favelas surgem mulheres de sáris coloridos, colares, pulseiras e flores nos cabelos, como se, na Índia, a beleza se recusasse a abaixar a cabeça pra miséria. As cores da Índia têm vida; ficam impregnadas na gente. Lá não existe o famoso pretinho básico. Ainda bem!

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